Um bom planejamento é um dos pilares de uma viagem. O problema é quando surgem imprevistos e todo aquele planejamento inicial vai por água abaixo. No meu caso foi literalmente o que aconteceu. Tudo ia bem com meu planejamento no início da viagem, bem até demais. Havia feito todo o roteiro da viagem pensando em pedalar uma média de 70 km por dia, mas, como conseguia pedalar 100 km sem grandes dificuldades, aqueles quilômetros de lambuja viravam destinos adicionais e até descansos prolongados em algum lugar interessante. Tudo parecia perfeito até eu chegar à NovaZelândia, justamente um país que eu adicionei ao meu roteiro por estar bem adiantado em meu cronograma e ter uns dias para curtir nesse isolado país. Logo que cheguei à ilha norte da Nova Zelândia me surpreendi com a organização e segurança do local. Tudo parecia bom e bonito demais. Talvez tenha sido por isso que eu relaxei mais do deveria e logo em minha primeira pedalada pelo país percebi que havia perdido meu cartão de crédito. Esse pequeno pedaço de plástico era a ponte que separava os fáceis saques em moeda local da miséria.Sem ele eu estava quebrado até que chegasse um novo cartão. Me virei como pude durante 1 mês em Auckland até que chegasse um novo cartão do Brasil. Quando chegou meu cronograma já estava atrasado em 1 mês. Naquele momento eu não senti o impacto que isso teria sobre minha viagem. Segui pedalando sem me preocupar muito. Ainda fui para a Austrália e sem pressa até esqueci completamente desse atraso. Uma hora a conta chega, dizem. Neste caso específico estavam certos, chegou mesmo e nem demorou. Logo que pousei na Indonésia vi que não chegara na Ásia em seu melhor momento. Meu pedal ali começava simultaneamente com as monções. Eu ainda não sabia direito o que eram as monções, mas sabia que eu teria muita água pela frente. Hoje poderia definir monções como aquela nuvem preta que paira sobre a cabeça de alguém. Meu único problema foi que neste caso a cabeça era a minha. Não importava para onde eu ia, sabia que essa nuvem ia me seguir. Foi assim naIndonésia, Cingapura, Malásia, Tailândia, Camboja, Laos, Mianmar, Bangladesh eÍndia, onde esta foto foi tirada. Quando cheguei na Índia já havia caído muita, mas muita, chuva naquela parte do mundo. Tanta água que algumas cidades inteiras estavam submersas. Era até difícil de acreditar, as vezes eu via apenas um imenso lago com alguns telhados no meio dele, a cidade estava ali, mas debaixo d’água.Eu pedalava na esperança de chegar a algum lugar seco, onde não chovesse. Ainda que isso fosse só uma ilusão, praticamente uma cenoura na frente do burro, era uma grande motivação. Foi assim que resolvi cruzar o norte da Índia em direção ao Nepal e acabei encontrando estradas inteiras debaixo d’água. Pedalar na água era um desafio adicional à viagem. Meu desgaste físico era grande e o desgaste mecânico da bicicleta era maior ainda. Para minha sorte fazia calor, minhas bolsas eram á prova d’água e tudo o que começa chega a um fim. O Nepal, cuja fronteira estava próxima do local onde essa foto foi sacada, foi o último país onde as monções me castigaram. Quando voltei para a Índia semanas depois, a nuvem preta havia ido embora e começava a período oposto, dali para frente eu tinha quase só desertos pela frente. Depois de tanto torcer pelo fim das chuvas, começava o período mais árido de minha volta ao mundo. Um bom planejamento é um dos pilares de uma viagem. O problema é quando surgem imprevistos e todo aquele planejamento inicial vai por água abaixo. No meu caso foi literalmente o que aconteceu. Tudo ia bem com meu planejamento no início da viagem, bem até demais. Havia feito todo o roteiro da viagem pensando em pedalar uma média de 70 km por dia, mas, como conseguia pedalar 100 km sem grandes dificuldades, aqueles quilômetros de lambuja viravam destinos adicionais e até descansos prolongados em algum lugar interessante. Tudo parecia perfeito até eu chegar à NovaZelândia, justamente um país que eu adicionei ao meu roteiro por estar bem adiantado em meu cronograma e ter uns dias para curtir nesse isolado país. Logo que cheguei à ilha norte da Nova Zelândia me surpreendi com a organização e segurança do local. Tudo parecia bom e bonito demais. Talvez tenha sido por isso que eu relaxei mais do deveria e logo em minha primeira pedalada pelo país percebi que havia perdido meu cartão de crédito. Esse pequeno pedaço de plástico era a ponte que separava os fáceis saques em moeda local da miséria.Sem ele eu estava quebrado até que chegasse um novo cartão. Me virei como pude durante 1 mês em Auckland até que chegasse um novo cartão do Brasil. Quando chegou meu cronograma já estava atrasado em 1 mês. Naquele momento eu não senti o impacto que isso teria sobre minha viagem. Segui pedalando sem me preocupar muito. Ainda fui para a Austrália e sem pressa até esqueci completamente desse atraso. Uma hora a conta chega, dizem. Neste caso específico estavam certos, chegou mesmo e nem demorou. Logo que pousei na Indonésia vi que não chegara na Ásia em seu melhor momento. Meu pedal ali começava simultaneamente com as monções. Eu ainda não sabia direito o que eram as monções, mas sabia que eu teria muita água pela frente. Hoje poderia definir monções como aquela nuvem preta que paira sobre a cabeça de alguém. Meu único problema foi que neste caso a cabeça era a minha. Não importava para onde eu ia, sabia que essa nuvem ia me seguir. Foi assim naIndonésia, Cingapura, Malásia, Tailândia, Camboja, Laos, Mianmar, Bangladesh eÍndia, onde esta foto foi tirada. Quando cheguei na Índia já havia caído muita, mas muita, chuva naquela parte do mundo. Tanta água que algumas cidades inteiras estavam submersas. Era até difícil de acreditar, as vezes eu via apenas um imenso lago com alguns telhados no meio dele, a cidade estava ali, mas debaixo d’água.Eu pedalava na esperança de chegar a algum lugar seco, onde não chovesse. Ainda que isso fosse só uma ilusão, praticamente uma cenoura na frente do burro, era uma grande motivação. Foi assim que resolvi cruzar o norte da Índia em direção ao Nepal e acabei encontrando estradas inteiras debaixo d’água. Pedalar na água era um desafio adicional à viagem. Meu desgaste físico era grande e o desgaste mecânico da bicicleta era maior ainda. Para minha sorte fazia calor, minhas bolsas eram á prova d’água e tudo o que começa chega a um fim. O Nepal, cuja fronteira estava próxima do local onde essa foto foi sacada, foi o último país onde as monções me castigaram. Quando voltei para a Índia semanas depois, a nuvem preta havia ido embora e começava a período oposto, dali para frente eu tinha quase só desertos pela frente. Depois de tanto torcer pelo fim das chuvas, começava o período mais árido de minha volta ao mundo.
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Pedalando na Água

Um bom planejamento é um dos pilares de uma viagem. O problema é quando surgem imprevistos e todo aquele planejamento inicial vai por água abaixo. No meu caso foi literalmente o que aconteceu.

Tudo ia bem com meu planejamento no início da viagem, bem até demais. Havia feito todo o roteiro da viagem pensando em pedalar uma média de 70 km por dia, mas, como conseguia pedalar 100 km sem grandes dificuldades, aqueles quilômetros de lambuja viravam destinos adicionais e até descansos prolongados em algum lugar interessante. Tudo parecia perfeito até eu chegar à NovaZelândia, justamente um país que eu adicionei ao meu roteiro por estar bem adiantado em meu cronograma e ter uns dias para curtir nesse isolado país.

Logo que cheguei à ilha norte da Nova Zelândia me surpreendi com a organização e segurança do local. Tudo parecia bom e bonito demais. Talvez tenha sido por isso que eu relaxei mais do deveria e logo em minha primeira pedalada pelo país percebi que havia perdido meu cartão de crédito. Esse pequeno pedaço de plástico era a ponte que separava os fáceis saques em moeda local da miséria.Sem ele eu estava quebrado até que chegasse um novo cartão.

Me virei como pude durante 1 mês em Auckland até que chegasse um novo cartão do Brasil. Quando chegou meu cronograma já estava atrasado em 1 mês. Naquele momento eu não senti o impacto que isso teria sobre minha viagem. Segui pedalando sem me preocupar muito. Ainda fui para a Austrália e sem pressa até esqueci completamente desse atraso.

Uma hora a conta chega, dizem. Neste caso específico estavam certos, chegou mesmo e nem demorou. Logo que pousei na Indonésia vi que não chegara na Ásia em seu melhor momento. Meu pedal ali começava simultaneamente com as monções. Eu ainda não sabia direito o que eram as monções, mas sabia que eu teria muita água pela frente.

Hoje poderia definir monções como aquela nuvem preta que paira sobre a cabeça de alguém. Meu único problema foi que neste caso a cabeça era a minha. Não importava para onde eu ia, sabia que essa nuvem ia me seguir. Foi assim naIndonésia, Cingapura, Malásia, Tailândia, Camboja, Laos, Mianmar, Bangladesh eÍndia, onde esta foto foi tirada.

Quando cheguei na Índia já havia caído muita, mas muita, chuva naquela parte do mundo. Tanta água que algumas cidades inteiras estavam submersas. Era até difícil de acreditar, as vezes eu via apenas um imenso lago com alguns telhados no meio dele, a cidade estava ali, mas debaixo d’água.

Eu pedalava na esperança de chegar a algum lugar seco, onde não chovesse. Ainda que isso fosse só uma ilusão, praticamente uma cenoura na frente do burro, era uma grande motivação. Foi assim que resolvi cruzar o norte da Índia em direção ao Nepal e acabei encontrando estradas inteiras debaixo d’água.

Pedalar na água era um desafio adicional à viagem. Meu desgaste físico era grande e o desgaste mecânico da bicicleta era maior ainda. Para minha sorte fazia calor, minhas bolsas eram á prova d’água e tudo o que começa chega a um fim. O Nepal, cuja fronteira estava próxima do local onde essa foto foi sacada, foi o último país onde as monções me castigaram. Quando voltei para a Índia semanas depois, a nuvem preta havia ido embora e começava a período oposto, dali para frente eu tinha quase só desertos pela frente. Depois de tanto torcer pelo fim das chuvas, começava o período mais árido de minha volta ao mundo.

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Fotógrafo
Arthur Simões
ano da foto
2007
local
Índia
quem está na foto
Arthur Simões
SOBRE O AUTOR
Em 2006 Arthur Simões iniciou o projeto Pedal na Estrada, uma volta ao mundo de bicicleta, percorrendo sozinho 46 países em 5 continentes. Voltou ao Brasil em 2009, após 3 anos e 2 meses. Lançou o livro O Mundo ao Lado, sobre sua viagem, realizou exposições fotográficas e atualmente trabalha com fotografia e viagens.
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