A etnia Sherpa é uma das dezenas de etnias do Nepal. Eles vivem nas regiões mais altas das montanhas, em vales longos onde não há estradas, apenas trilhas.
Por estarem acostumados a andar tanto e por nascerem em lugares altos, tornaram-se montanhistas perfeitos. Sem eles, escalar ou fazer um simples trekking no Himalaia seria muito mais difícil.
Eles descendem dos tibetanos e vivem no Himalaia há 500 anos. Tempo suficiente para terem desenvolvido genes que lhes permitem uma adaptação mais fácil às grandes altitudes.
Namche Bazaar é considerada a capital deles e, como tudo na vida de um sherpa, para chegar lá é preciso andar muito.
Começamos a caminhada pela manhã e logo vamos conhecendo melhor a estrutura daquela trilha que é como uma estrada. Há muitas casas, lojas, casas de chá e hotel. Uma estrutura urbana.
Infelizmente havia uma névoa no ar e estava difícil avistar as montanhas. Vou percebendo as pessoas que frequentam a trilha. Gente do mundo todo e em grande quantidade.
Há muitos orientais. Japoneses e chineses em grandes grupos. Os indianos são sempre os mais lentos e pior equipados. Europeus são os mais rápidos. Há famílias também. Vejo um casal russo com duas meninas entre 10 e 12 anos com olhos claros como a cor do Dudh Khosi (o rio principal que nasce no Everest). Dois sherpinhas esticam o pescoço para as ver passar.
As vilas são bem bonitas, esteticamente dizendo. As construções são rústicas, mas bem acabadas. Há muitos tea houses com placas de café espresso italiano. Estas construções e a paisagem me fazem pensar estar na Suíça. Porém, os sinos não são tocados por vacas gordas, mas sim por bois peludos e chifrudos que carregam a carga dos turistas, o dzopkio, uma mistura do yak com a vaca tibetana.
Porém, a carga pesada é carregada mesmo pelos portadores. Provenientes de vilas mais abaixo nos vales, eles são de outras etnias, como Rai e Tamang. Alguns impressionam pela quantidade de carga que conseguem transportar.
Muitos carregadores amarram os duffel bags dos turistas, fazem uma alça com a corda e saem andando pela trilha. Outros levam um cesto nas costas, empilhando acima dele várias mochilas das expedições.
Não deixa de ser um contraste estes homens e mulheres se sujeitando a tão penoso trabalho, transitando por uma trilha com infraestrutura da Suíça.
O começo da caminhada se dá percorrendo um vale com muitas travessias por ponte suspensa. O tamanho dos cabos de aço impressionam. Fico imaginando como o material usado na construção destas pontes chegou lá...
Em certo ponto a trilha começa a subir e chegamos na mãe de todas as pontes, atravessando uma garganta de mais de 100 metros de altura. Algumas pessoas ficam até com vertigem.
Após este cruzamento de rio, a trilha segue abrupta, ganhando altura rapidamente. Como subir é minha especialidade, nem me importo com o esforço e quando vejo já estou entrando em Namche Bazaar para chegar em nosso confortável hotel.
Ainda é cedo e aproveito para conhecer melhor a interessante cidade com alguns clientes.
Descemos uma viela e chegamos numa rua plana, há uma bela loja de equipamentos de escalada, caixas eletrônicos, pousadas, restaurantes, lojas e cafés. Paro em um para tomar um espresso com torta por cerca de 8 dólares.
Depois disso vamos andando pelas várias vielas de onde avistamos uma pedra bonita onde pensamos ter vias de escalada. Para chegar lá, vamos passando pela periferia da vila, saímos da "Suíça" para entrar na "Bolívia" em poucas quadras.
Entramos num quintal e damos de cara com um homem amassando latinhas de bebidas. Ele nos permite passar. Olho dentro de sua casa e vejo o chão batido e a iluminação deficiente.
Chegamos na tal pedra mas nada de escalada, mas um belo mirante para o vilarejo. Sherpa escala muito bem, mas faz isso para obter renda.
Quem gosta mesmo de escalada por recreação somos nós, gringos.
Voltamos a tempo para nosso confortável hotel para o delicioso jantar. As sapatilhas de escalada não saíram da mochila.