Este brasileiro parece personagem das ficções escritas por Julio Verne. Ele já viajou pelas profundezas do oceano abordo de potentes submarinos, já pilotou tanques de Guerra a carros de Fórmula Indy, atingiu a estratosfera em um caça supersônico e agora faz parte de uma seleta lista mundial daqueles que alcançarão o espaço pela iniciativa privada.
Para isso, realizou diversos treinamentos em microgravidade nos Estados Unidos, simulações de exploração de Marte no deserto de Utah e ainda organiza grupos como guia nos modernos Observatórios astronômicos do Atacama, onde uma vez ao ano, leva aficcionados para assistir desde uma chuva de meteoros até um fenômeno raro como um eclipse solar. Definitivamente, a vida de Marcos Palhares foge ao trivial, tanto é que escreveu um livro “O Céu não é o Limite” que foi prefaciado por ninguém menos que o único astronauta brasileiro e atualmente ministro, Marcos Pontes, do qual se tornou sócio.
Segue um feliz bate-papo com nosso aventureiro WAS de primeira linha:
WAS – Palhares, você já fez de tudo, já escalou montanhas, mergulhou em naufrágios, praticou todo tipo de esporte outdoor e agora deve representar o Brasil no Espaço. Como é isso?
Marcos Palhares – Eu entrei na atividade de Aventuras muito cedo e percebi que isso me trazia enorme satisfação, porque a cada nova empreitada era seguida de um benéfico sentimento de superação que contagiava minhas veias com o “quero mais”. Chegar ao espaço é parte deste sonho, pois desde criança eu desejava ser astronauta e isso me parecia inatingível. Criei meu bordão “O céu não é o Limite” e mostro as pessoas que é possível acreditarmos em nossos sonhos, desde que empenhemos nossa dose de persistência, preparação e planejamento.
WAS – Com que idade fez sua primeira aventura? Qual foi?
MP – Eu tinha uns doze anos. Minha primeira aventura foi um trekking de 63 km até o morro do Pai Inácio, na Chapada Diamantina. Ao chegar no pé do morro, nosso guia disse: “agora vamos subir!” e eu olhei para aquela montanha enorme e íngreme, morto de cansaço e achei que ele estava de brincadeira. No final, chegamos lá em cima para assistir um maravilhoso e inesquecível pôr do sol no vale. Dei um brado de Tarzan pela conquista de ter conseguido superar-me e me senti vitorioso. Isso me mudou pra sempre.
WAS – Você já passou perigo de vida? Subir ao espaço não é perigoso?
MP – Claro! Muitas vezes! Na verdade, um simples passeio em família a bordo de um teleférico em um despretensioso domingo, pode-se dizer que sua vida está por um fio. É dessa forma que eu encaro meu voo espacial. Sei que existe o risco, mas o risco existe sempre em tudo. Não adianta entrar em uma “neura”. Um dia pensei muito sobre meus medos e descobri que eu tinha medo de tubarão. Então, planejei um shark dive justamente para eliminar este medo de minha mente e desta forma me tornar um ser humano melhor, mais evoluído, mais preparado para as surpresas da vida. Hoje faço rapel, cannyoing, boiacross, tirolesa, rafting, exploro cavernas e tudo mais.
WAS – Acha que todas as pessoas deveriam fazer como você e enfrentar seus medos também? Que conselhos pode dar a quem enfrenta o paradigma sonho-medo?
MP – O medo pode ser importante algumas vezes, ele é um balizador sobre seus limites e impede que façamos bobagens. Mas ele deve ser trabalhado, porque do contrário você se tornará refém e terá uma vida enfadonha. Então, o correto é tornar o medo um risco calculado, dessa forma você pode confrontá-lo, tomando atitudes para evitar erros desnecessários e se preparando melhor para os desafios da vida. Eu tenho o sonho de subir ao espaço, imagine como seria possível eu realizar este sonho se eu tivesse medo de alturas? Eu proponho que neste caso, eu poderia começar subindo uma escada. Depois que me sentisse seguro, subiria um prédio e admirasse a paisagem por uma janela. Uma vez seguro, seguiria em frente e tentaria uma montanha russa em um parque... e dessa forma, em pílulas, você pode enfrentar seus medos e caminhar na direção de seus sonhos.
WAS – Qual é a sua experiência com montanhas?
MP – Bem, no deserto do Atacama no Chile eu sou responsável em levar pessoas comuns a 5mil metros de altitude. É necessário levar tubos de oxigênio pois nesta altura o corpo reage de diferentes maneiras para diferentes pessoas. Temos uma equipe médica de apoio que analisa o batimento cardíaco de cada um devido a falta de ar e mesmo assim acontecem coisas engraçadas: vi turistas entrelaçando as pernas durante a caminhada porque é normal a mente ficar confusa neste ambiente. Mas o impressionante pra mim é a trilha Inca pelas escadarias de Huayna Picchu, no Peru, a falta de cuidado local com a segurança dos turistas que sobem escadas extremamente íngremes e estreitas pelo penhasco. Toda semana alguém se acidenta fatalmente e as autoridades nada podem fazer pois Machu Picchu é tombado pela Unesco, como pode?
WAS – Qual é o peso da responsabilidade em conduzir pessoas em atividades que envolvem risco de fatalidades? O que você faz para minimizar tais riscos com seus grupos?
MP – Boa pergunta. Nós temos seguro viagem em todos os passeios. Mas quando o problema envolve o emocional, eu gosto de chegar perto do meu cliente, olhar nos olhos com seriedade e passar palavras de confiança. Agente dá um treinamento antes da subida e isso deixa eles mais aliviados, mas não me tira o peso da responsabilidade. Minha experiência permite saber quem no grupo merece mais minha atenção afim de evitar acidentes. Uma vez um cliente teve uma crise de falta de ar e ele utilizava o cilindro de oxigênio da maneira errada. Eu percebi e corri até ele, deixei-o mais calmo, apontei o cilindro adequadamente na região nasal e pedi para que ele respirasse profundamente. Aos poucos, ele controlou sua crise.
WAS – Como foi chegar a mais de 2mil pés de profundidade em um submergível?
MP – Essa experiência fez parte de minha busca para explorar novos mundos, até porque nessa profundidade apenas poucos seres humanos tiveram o privilégio de alcançar. É necessário equipamentos de ponta extremamente caros e uma equipe técnica como suporte afim de garantir a segurança no projeto. No fundo do oceano, viajando por áreas intocadas pelo ser humano e cercado de uma fauna marinha que eu chamo de “entidades bioluminescentes” vivi uma das experiências mais marcantes de minha vida. E eu me sentia em uma espaçonave navegando por mundos desconhecidos!
WAS – Quanto custa uma experiência como esta? E as outras, como passeios em submarinos ou caças? Tudo parece ser tão caro e fora de alcance para tanta gente. Acha possível pessoas sonharem com isto e um dia realizarem este sonho? Como?
MP – Estamos falando de experiências acima dos cem mil reais. Isso faz pensar que meus clientes são milionários, mas a imensa maioria não é. Uma vez um senhor que dizia sonhar voar em um caça desde criança finalmente tinha condições em fazê-lo, mas quando sua esposa viu o valor do cheque imediatamente refutou. Este cliente voltou meses depois para fazer o cheque e eu questionei se não seria o pivô de uma separação. Ele apenas me disse: “fique tranquilo, ela não queria que eu usasse nosso dinheiro, mas compreendeu a importância que tinha pra mim em realizar este sonho. Então vendi o carro que era meu e aqui estou. O Metrô não será problema por um tempo.” Essa é uma das várias histórias que eu vejo no dia-a-dia. Quando a pessoa quer e está determinada, dinheiro não é o problema. A vontade e determinação de cada um em seu propósito é o que conta.
WAS – Eu vi que você conhece muitas pessoas que normalmente não são acessíveis ao público, como Elon Musk da Space X, o excêntrico Richard Branson, Buzz Aldrin da Apolo XI... Como você conseguiu falar com estas pessoas?
MP – Essa é uma pergunta interessante, porque eu atribuo minha aproximação a estas pessoas que mudaram e continuam mudando a história da humanidade a uma mistura de Lei da Atração com um bom misto de sorte. Nunca passaria pela minha cabeça que ao decidir assistir a decolagem de um foguete espacial na NASA, sentaria ao lado do astronauta Marcos Pontes durante minha viagem pela linha aérea. A maioria dos meus encontros foram por um acaso, embora meu desejo marcante de estar ao lado e em sintonia com estas pessoas deve ter ajudado muito. Tenho um escritório lotado de autógrafos de astronautas na parede e parece que isso contribui nessa força atrativa. Costumo dizer que minha mão direita já cumprimentou muitas pessoas que “fazem acontecer” e isso além de me abrir portas que eu não imaginava, é um motivo de orgulho. Afinal, nada vale uma oportunidade rara se você não souber se comunicar...isso é essencial, ou seja, ter algo pronto e interessante para iniciar uma conversa e criar uma boa sintonia.
WAS – Como essa Lei da Atração pode ser usada na aventura? Além de ter planos com objetivos bem definidos, um projeto bem elaborado com uma bela apresentação e saber demonstrar que se tem preparo para levar a missão até o final, com que mais um aventureiro pode contar para tornar um projeto em realidade?
MP – Paixão. É como se diz: “o segredo não está em chegar no topo do morro, mas sim em saber admirar o caminho.” Se você faz algo apenas em busca de uma marca, acaba perdendo o melhor. O aventureiro que se destaca em sua área é aquele que ama o que faz.
WAS – Você já quebrou a barreira do som. O que você sentiu?
MP – Imagine voar a uma velocidade mais rápida que o som da minha voz chegando ao seu ouvido? Eu atingi quase 2mil km/h em um caça Mig na Rússia. Quando acelerei o caça e vi os ponteiros se mexendo, minha primeira reação foi olhar pelo cockpit a mudança externa. Praticamente as nuvens aceleram como se fossem levadas por um vendaval. Em baixa altitude a experiência é ainda melhor, pois as cores no solo vão perdendo sua vivacidade e se tornando opacas. Nestas velocidades você deve estar preparado para as Forças G que esmagam seu corpo contra o assento do avião, isso sim pode ser bem doloroso.
WAS – Que tipo de preparo é este e como podemos conseguir alcançá-lo?
MP – Colocamos o cliente em contato com um médico para saber se ele tem problemas de coluna, pressão cardíaca ou mesmo alguma síndrome claustrofóbica. Comportando-se tudo normalmente, coloco em contato com um profissional e ele passará por uma câmara hiperbárica para simular grandes altitudes. Além disso, eu procuro aplicar aquela minha teoria das pílulas...antes do cliente dispender cem mil reais em um voo como este, pergunto se ele não deseja um voo em um caça subsônico primeiro. Assim, ele compreende melhor onde ele está se metendo por um valor bem menor. Após ele estar em contato com o equipamento, se familiarizar com as roupas, cockpits, máscaras de oxigênio e sistemas de segurança, saber como seu corpo se comportou, o próximo passo é perguntar se ele deseja seguir adiante. Certamente estará mais preparado e compreenderá melhor os riscos.
WAS – E você já viu a curvatura da Terra na Estratosfera?
MP – Assim que subi a 62 mil pés, vi o quanto nosso planeta é lindo...para os terraplanistas de plantão, sim, eu sou a prova viva de que a Terra é redonda. Você navega por um ambiente escuro, pois a atmosfera e a maioria dos gases está muito abaixo. Então as nuvens e todo nosso azul fica sob seus pés e você aprecia uma janela para o espaço. Lá, até o sol é diferente. Você o vê como uma estrela, pois não há “filtros” aos nossos olhos. O sol é branco esverdeado, e não vermelho ou amarelo como a gente vê aqui embaixo. O sol é uma bomba de nêutrons!
WAS – Então você já sentiu o gostinho do que vai experimentar quando decolar na nave da Virgin Galactic, certo? A missão já tem data? Pode nos dar detalhes de como será?
MP – Ah, eu já tive o privilégio de assistir algo bem próximo do que vou sentir quando chegar a 100 km de altitude. O voo de caça fez parte desta escada que proponho para poder continuar sempre me surpreendendo. Se eu voasse para o espaço antes de fazer o voo de caça, certamente o voo de caça perderia sua graça. A preparação deve seguir a uma ordem natural. Agora estamos em fase de teste com a espaçonave que já atingiu seu marco espacial. A meta agora é uma bateria de testes para comprovar a resistência dos equipamentos e estruturas e ganhar a homologação. Isso geralmente leva uns 3 anos mais de testes, algo como 4 mil horas de motor. Tem um vídeo que fiz para mostrar como tudo funciona. Visite: https://www.youtube.com/watch?v=mkLgxgwL6YY
WAS – Bom, pelo visto você tem muitas histórias e já fez praticamente tudo. Afinal, o que falta fazer?
MP – Ainda tem muitas coisas para conhecer e fazer. Ano passado eu quase fiz um salto de paraquedas a 38mil pés, com macacão especial e capacete de oxigênio, mas não deu certo. Isso ainda está na minha lista e ela é bem extensa. Eu ainda tenho que concluir alguns treinamentos em Moscou para minhas atividades espaciais e estou trabalhando nisso também. Sempre sonhei em pilotar um Hovercraft gigantão e parece que estou em vias de conseguir um na Austrália. Lugares como Grécia e Egito possuem uma história riquíssima e ainda não passei por lá. Em compensação, fiz minha peregrinação de camelo em Petra, na Jordânia, passeio digno de Indiana Jones. Aqui na minha página pessoal tem um resumão: http://marcospalhares.com.br/raio-x-do-aventureiro/
É por ai, onde a imaginação alcança, eu estarei lá...
WAS – Você teria algum conselho para dar aos aventureiros iniciantes ou aos inexperientes que estão em busca da viabilização de projetos?
MP – Adorei a pergunta. Confesso que tentei diversos patrocínios e isso me tomou muito tempo e nenhum resultado até hoje. Então eu decidi que não poderia me desmotivar e deveria buscar alternativas enquanto as coisas não aconteciam, pois tempo é precioso. Cada um tem seus mecanismos para se auto-patrocinar e eu tive que correr atrás dos meus. Eu já tinha um trabalho que me pagava as contas, mas nem de perto podia almejar tais experiências. Comecei trocando meus finais de semana que me traziam custos como almoços com os amigos, cinema com a namorada e etc; e busquei um modelo que estava ao meu alcance para transformar meu fim de semana em receita. Eu tinha um cosplay do Darth Vader e por incrível que pareça, com um simples site na internet passei a ser contratado para diversos eventos nestes meus momentos de folga. Cheguei a ter 5 eventos por fim de semana. De pronto, dobrei meu salário no final do mês e diminuí despesas, mas ainda não era suficiente. Então precisei continuar me reinventando e escrevi um livro. O livro não vendia nada na livraria e decidi que eu precisava fazer palestras para divulgá-lo e assim conseguir algumas vendas. O interessante é que eu não só aumentei muito a venda dos meus livros como também as palestras gratuitas com o passar do tempo me trouxeram palestras pagas...e bem pagas, por sinal. Mais um incremento conquistado! Por fim, com o networking alcançado, abri uma empresa de marketing digital, minha expertise, e depois veio a sociedade com o astronauta Marcos Pontes em nossa Agência de experiências. Esta agência, aliás, me permitiu realizar muitas viagens a um custo menor. O que estou explicando é que existe o administrador e existe o empreendedor. Meu conselho é que você se torne o empreendedor de você mesmo, ative sua marca pessoal! Então construí outro site para contar tudo que faço e as oportunidades continuam aparecendo, seja nas vendas, nos livros, nas palestras, nas minhas 2 agências. Minha mensagem: comemore cada conquista e cada passo que te leva adiante! Depois, sempre que puder, agradeça ao universo e doe sua energia boa em prol de uma causa. O mundo também agradecerá!