Prepare-se para se aventurar em um mundo de aventuras emocionantes e cenários impressionantes enquanto conversamos com o canionista Sanner Moraes. Com um espírito audaz e uma paixão inabalável pela exploração das mais profundas gargantas e desfiladeiros, Sanner é um verdadeiro mestre das alturas. Nesta entrevista exclusiva, ele compartilhará suas experiências, os desafios enfrentados ao longo de sua carreira, e como essa fascinante atividade o conecta de forma íntima com a natureza que o cerca. Junte-se a nós nesta jornada emocionante e descubra o mundo através dos olhos destemidos de Sanner Moraes, um verdadeiro mestre dos abismos.
WAS – O que é canionismo?
Sanner Moraes – É a atividade exploratória ou esportiva de se percorrer o interior de um cânion, descendo o leito do seu curso d'água, servindo-se de técnicas e equipamentos de diversos esportes aquáticos e de montanha para que se consiga progredir em seus diversos aspectos, em especial os desníveis.
WAS – Há diferentes modalidades dentro desse esporte ou é uma coisa só?
SM – Sim, há diferentes tipos de modalidades apesar do objetivo final ser um só: a exclusividade de poder estar em locais restritos e de grande beleza natural, com a sensação de êxito em se vencer o percurso. Podemos dividir em duas vertentes: Os que gostam de conquistar novos cânions e os que gostam de descer cânions conquistados. A primeira é formada por pessoas com perfil predominantemente explorador. Estas estão dispostas a sofrerem mais com a pressão psicológica e a exaustão física em troca da aventura inédita. São pessoas que têm o trabalho de grampear todas as ancoragens e criar um croqui do cânion conquistado, a fim de que os próximos praticantes, os repetidores, possam se guiar. A segunda é formada por esses repetidores, que são praticantes com perfil predominantemente recreativo e contemplativo, ou também esportividade quando esses cânions estão com seu caudal d'água forte.
WAS – Como você conheceu o canionismo? Quando começou a praticar?
SM – Foi uma transição de longos anos. Eu nasci e fui criado na vila de Furnas-MG, um local circundado de belos e potenciais cânions e cachoeiras.
Comecei a me pendurar em cordas em 1996, de forma bem amadora. Em 2000 eu conheci um amigo, o Dickran Berberian, ele me ensinou muitos macetes de cachoeirismo e nesse momento já dispúnhamos de técnicas e equipamentos. Em 2001 começamos a explorar os cânions da região, porém não tínhamos as técnicas de recuperação de cordas do canionismo. Para isso, fazíamos como espeleólogos, uma corda para cada cachoeira e quando acabavam as cordas, voltávamos fazendo ascensão. Em 2008 eu comecei a prospectar cânions maiores, que atualmente são os Cânions BS Prime e BS Diamond, os ícones e clássicos da região de Furnas. Mas foi em 2010 que fui a um encontro brasileiro de canionismo em Delfinópolis/MG na Serra da Canastra e lá conheci o esporte efetivamente através de amigos canionistas. Realizei alguns cursos e de lá pra cá conquistei inúmeros cânions na minha região, descendo muitos outros em regiões como Serra do Intendente, Brotas, Planalto Central, Chapada dos Veadeiros e Chapada Diamantina.
WAS – Você acha o canionismo uma atividade perigosa? Quanto?
SM – Sim e não. Eu explico. É uma atividade potencialmente perigosa por suas características altitudinais, aquáticas e regionais por ser praticada em locais inóspitos. No entanto, escolas tradicionais como a que me formei, a francesa, vem investindo no desenvolvimento e aprimoramento de técnicas para sanar falhas do passado. Os equipamentos também evoluíram e isso faz com que o risco seja controlado. O canionismo está se popularizando no Brasil e por esse motivo já começaram a acontecer acidentes. A disponibilidade de informação na web, como tutoriais no YouTube, acredito que também contribuem para que os novos praticantes aspirem de forma rápida, porém muitas das vezes técnicas erradas e/ou inconsistentes (uma vez que a web atualmente está lotada de informações erradas) faz o novo aprendiz emitir um juízo de valor oco, amparado em sua emoção e não na razão. Bom, é por esses fatores e pelas características comportamentais dos tempos atuais que a primeira resposta é sim. É perigosa. Entretanto, conheço canionistas que já praticam há mais tempo do que eu e que nunca tiveram um arranhão. Claro que com o passar dos tempos, com a evolução das técnicas e dos equipamentos, os praticantes vão ficando cada vez mais arrojados. Mas para os praticantes (antigos ou novos) que sabem se despir do espírito competitivo e que acima de tudo sabem respeitar seu nível técnico, sem vislumbres, acumulando maturação consistente, e que reconhecem os perigos da atividade sem o clima de “oba-oba”, sem subestimar o cânion, para esses praticantes a atividade se torna segura.
WAS – Como está o canionismo no Brasil?
SM – Em crescimento, assim como houve um boom na Europa nos anos 2000. Muitos estão migrando do rapel, ou fazendo um híbrido. Os encontros brasileiros e estaduais que aconteciam anualmente fomentavam a atividade, mas entraram numa curva descendente. Voltaram a força após um RIC (Rendez-vous International Canyon) ou Encontro Internacional de Canionismo, o primeiro e com edição única até então, cujo evento aconteceu em 2012 em Delfinópolis/MG. De lá pra cá, com a popularização e novos cânions sendo conquistados, a atividade cresceu, apesar da quantidade de praticantes ainda ser inexpressiva em relação a outros esportes de montanha e aventura. O brasileiro ainda não está completamente disposto a adotar esse estilo de montanha, em especial o do canionismo, mesmo o Brasil tendo um potencial enorme. Mas aos poucos isso vem mudando.
WAS – Onde você pratica mais o canionismo?
SM – Região de Furnas! Terra onde nasci! (risos...) Cânions com quartzitos claros e águas cristalinas. Não foi essa a pergunta, mas vou dizer: Já desci cânions em várias regiões, mas nenhuma região supera as características cênicas das Minas Gerais, em especial a região de Furnas.
WAS – Quais outros esportes você pratica?
SM – Pratiquei por muito tempo a escalada em rocha e gosto muito de uma variedade dela, o psicobloc (praticado sobre a água e sem corda) é também uma atividade anfíbia. Mas com o foco dedicado ao canionismo nessa década, não tive tempo para praticar o quanto gostaria. Outro esporte que pratico ocasionalmente é o mergulho com cilindro. Mas o esporte que tenho me encantado é o Paraquedismo (skydive).
WAS – Fale um pouco sobre sua entrada no paraquedismo.
SM – Era um sonho de criança. Queria praticar quando assisti uma cena irada da primeira versão do filme “Caçadores de Emoção”, onde o personagem Bodhi (Patrick Swayze) intima o agente Utah (Keanu Reeves) a saltar e fazer um ritual de encerramento do verão, uma estrela no ar. Acompanhava também pela TV um paraquedista ícone dos anos 2000, o Gui Pádua, que é quase um conterrâneo e me influenciou muito. Mas na época, minha idade para me deslocar até as áreas de salto, na frequência com que elas aconteciam e geravam custos, me limitavam. Mas em 2013, eu disse: – Agora preciso investir nesse sonho. Fui pra Resende/RJ a convite de um experiente amigo e instrutor de paraquedismo e iniciei o curso, porém não dei continuidade. Em 2018, já morando em Ribeirão Preto e mais perto do Centro Nacional de Paraquedismo, em Boituva/SP, retornei a esse esporte que requer muita dedicação tanto para o desenvolvimento de performance quanto para uma maturação na gestão dos riscos. Desde então venho gostando cada vez mais.
WAS – Fale um pouco sobre sua atividade como produtor de vídeos de aventura.
SM – Um pouco? Posso falar muito? (risos...) É outra paixão, e virou profissão. Cultivo esse gosto desde criança também. Me formei numa área correlata e assim que me formei em 2004, já com uma certa experiência em atividades de aventura e de montanha, comprei minha primeira câmera, uma HandCam Mini-DV para poder registrar minhas aventuras. De uma forma espontânea, observando muito e testando formatos, os registros iam ficando cada vez melhores. Quando em 2010 resolvi que queria ter um programa de TV com tema de aventuras. Fiquei dois anos fazendo pilotos e procurando canais que eu pudesse exibir meu conteúdo e em 2012 estreei num canal local de Ribeirão Preto, onde fiquei até 2018. Durante esse tempo, já praticando canionismo e sendo este o tema predominante dos meus programas, acabei me tornando a referência na produção de vídeos para quem pratica o canionismo e num estilo de produção a ser copiada pelos amadores! (risos...) Desenvolvi minha expertise para esse tipo de gravação que envolve água, barulho, pouca luz e atletas que na hora H, querem andar rápido e sair do cânion. Como transitava por outros esportes, recebi convites para atuar em outras produções como as de BASE Jump, que venho fazendo bastante e até mais do que eu esperava. Em 2014 eu fui convidado pelo icônico aventureiro e experiente em imagens de aventura, Celso Cavallini, a participar de uma de suas produções que foi no cânion BS Prime onde aprendi muitos macetes com ele, tanto técnicos quanto burocráticos. Em novembro de 2015 comecei a construir um projeto de uma série de canionismo para o canal Off. Consegui finalizar uma negociação, mas que foi adiada devido ao frágil cenário político e econômico que o Brasil passou em 2016. Mas em 2018, já na era do digital, foi ao ar pelo aplicativo do canal Off a primeira produção sobre canionismo produzida no Brasil, por mim.
WAS – Deixe uma mensagem para quem deseja ingressar no canionismo, paraquedismo ou outras atividades de aventura.
SM – Procurem sempre alguém que realmente tenha um bom histórico na atividade e nunca, nunca tenham pressa em começar. Nos dias de hoje, todos queremos as coisas “pra ontem” e isso faz com que se pule etapas importantes no aprendizado e formação do aprendiz. E em se tratando de esportes de risco, isso pode ser mortal. No canionismo, apesar de não ser obrigatório, é interessante que se faça um curso com entidades ou alguém que tenha um bom histórico e bagagem. Afinal, você pode aprender de forma errônea justamente pelo fato do curso não ser obrigatório e por não possuir algum tipo de padrão. Para saber escolher, não tenha pressa e pesquise bastante. Já no Paraquedismo é obrigatório o curso. O método usado hoje é o AFF (Acelerated Free Fly) composto por conteúdo teórico e mais 7 níveis práticos que o aluno deve cumprir e também ser aprovado. Depois você passa para a fase de maturação e mesmo saltando sozinho, sempre estará sob a observação de um instrutor até o seu 25º salto. A maior área de saltos da América Latina é Boituva e lá consequentemente concentra a maioria das escolas que funcionam praticamente todos os dias da semana. Por ser um esporte mais antigo que o canionismo e ser praticado em todo mundo basicamente com os mesmos protocolos, os instrutores serem submetidos a comprovação de proficiência, você não precisa se preocupar com a possibilidade de “aprender errado” ou de forma divergente entre escolas. E mais uma vez eu pontuo: A pressa é inimiga da evolução. As demais atividades de aventura seguem esses modelos acima, tanto para esportes que se pode aprender praticando com um amigo/instrutor ou para esportes que necessitam de cursos e é praticado de forma padrão em todo o mundo.